1870: Pelo progresso de Santos, nascia a Associação Comercial

Aspecto da Rua da Praia em 1870, palco do surgimento da Associação Comercial de Santos

Santos, quinta-feira, 22 de dezembro de 1870. A casa de número 38 na Rua da Praia, atual Tuiuty, propriedade do comendador Nicolau José de Campos Vergueiro, tornava-se o cenário de um encontro histórico. Um grupo visionário de empresários locais reuniu-se com o objetivo ambicioso de emancipar Santos das amarras comerciais impostas pela dependência do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, em especial no que se referia às operações de exportação e importação.

Naquela época, a cidade de Santos observava, com grande entusiasmo, um aumento exponencial no volume de mercadorias movimentadas através de seu porto, destacando-se o café que totalizara cerca de 500 mil sacas embarcadas naquele ano. A movimentação prenunciava uma transformação profunda não apenas para a cidade, mas para todo o Estado de São Paulo e o Brasil. Contudo, para que essa evolução se concretizasse, era imperativo modificar certas práticas comerciais vigentes.

Uma das principais fontes de insatisfação entre os empresários santistas residia na obrigatoriedade de realizar todas as transações comerciais por meio de “Letras de Câmbio” (ou Notas Promissórias), as quais só podiam ser compensadas no Rio de Janeiro. Essa exigência burocrática retardava significativamente o progresso comercial de Santos e de seu porto.

A modernização do Porto de Santos era a principal pauta de luta da jovem Associação Comercial de Santos

A tentativa de estabelecer uma “Praça de Comércio” autônoma em Santos não era inédita. Já em 1846, destacados empresários da região esforçaram-se para fundar uma entidade que defendesse os interesses comerciais locais, especialmente em negociações com a Corte Imperial. Naquela época, era o açúcar que dominava as exportações, seguido por produtos como a farinha de mandioca, o fumo, o algodão, a aguardente de cana e, emergindo com força, o café, que começava sua ascensão como vetor do desenvolvimento econômico nacional. No entanto, o volume de comércio da época ainda era visto como insuficiente pelo Império para justificar a autorização de uma praça de comércio independente em Santos, adiando assim a realização desse sonho.

Este encontro de 1870,  marcou um ponto de inflexão, onde os empresários de Santos, cientes da importância estratégica de seu porto e motivados pelo dinamismo econômico que o café prometia, decidiram tomar nas próprias mãos o destino comercial da cidade, buscando superar os obstáculos que limitavam seu pleno desenvolvimento.

Decreto que autoriza o funcionamento da Associação Comercial de Santos, assinado pela Princesa Regente do Império, Isabel

 

Precedentes

Em setembro de 1849, o médico alemão Wilhelm Délius, que acumulava as funções de advogado, tesoureiro da Santa Casa e tradutor juramentado da Alfândega, tomou a iniciativa de fundar o primeiro periódico da cidade, a “Revista Commercial”. Esse ato pioneiro tinha como principal objetivo fomentar a discussão sobre a independência comercial de Santos em relação à capital do Brasil. Contudo, para que Santos pudesse efetivamente se emancipar no cenário negocial, era necessário um conjunto de mudanças substanciais e investimentos estruturais na região.

A Revista Commercial, primeiro jornal de Santos, de um impulso e fomentou a criação da ACS

O marco decisivo para essa transformação veio em 1867, com a inauguração do sistema ferroviário ligando o porto de Santos à capital paulista e às regiões agrícolas do interior. Esse avanço representou um ponto de virada, abrindo perspectivas promissoras para o desenvolvimento santista. Até aquele momento, o transporte de mercadorias dependia exclusivamente do esforço de milhares de mulas, o que causava congestionamentos significativos e desgaste nas vias de acesso da cidade, além de resultar frequentemente na perda de cargas devido a acidentes e adversidades climáticas.

A implementação da ferrovia revolucionou o comércio, facilitando o escoamento da produção agrícola, especialmente do café, e impulsionando o crescimento econômico de Santos.

O crescimento exponencial na movimentação de cargas, que praticamente triplicou com a introdução da ferrovia, gerou tanto entusiasmo quanto aos desafios significativos para Santos. A cidade enfrentou consequências decorrentes da ocupação desordenada de seu território, impulsionada pela chegada de milhares de pessoas em busca de oportunidades de emprego. Este influxo, já na metade do século XIX, levou a problemas sérios relacionados à falta de saneamento básico e insuficiência de moradias adequadas para acomodar o rápido crescimento populacional.

Diante da perspectiva de um futuro comercialmente promissor e da necessidade de um desenvolvimento urbano planejado, a questão da autonomia econômica e negocial de Santos tornou-se premente. Foi essa a motivação fundamental que levou os empresários locais a se reunirem na tarde de 22 de dezembro de 1870, quando, num encontro histórico, se fundou a “Associação Comercial de Santos”, um marco desejado por toda a comunidade que sinalizava o início de uma nova era para a cidade. O evento representara um verdadeiro presente de Natal para a cidade de Santos, marcando o começo de sua consolidação como um importante centro comercial e urbano independente.

 

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