No dia 5 de fevereiro de 1926, Santos recebeu, por algumas horas, a visita ilustre do barão Julio Cesar Montagna, embaixador da Itália no Rio de Janeiro, que realizava um giro oficial pelo Estado de São Paulo após retornar de viagem ao Rio Grande. Viajando desde cedo, acompanhado pelo cônsul geral G. Delfini e por seu secretário, V. Ciano, o diplomata chegou à cidade por volta das dez e meia da manhã, sendo recepcionado por uma comitiva das mais representativas da vida política, social e comunitária santista. À entrada da cidade, aguardavam-no o senador A. S. Azevedo Júnior, presidente da Associação Comercial de Santos, além de autoridades municipais, líderes da colônia italiana, representantes da imprensa e dirigentes de instituições locais. Após os cumprimentos iniciais, o embaixador dirigiu-se ao Paço Municipal, escoltado pela cavalaria da Polícia, onde foi recebido sob a execução do Hino Italiano e, em seguida, do Hino Nacional, pela banda do Corpo Municipal de Bombeiros. Lá, reuniu-se brevemente com os membros da Câmara Municipal e registrou, no livro de visitantes, suas impressões elogiosas sobre o dinamismo comercial da cidade e o acolhimento que encontrara no Brasil.
Da sede do governo municipal, o diplomata seguiu para o Pantheon dos Andradas, onde percorreu atentamente as inscrições históricas e depositou uma corbelha de flores em homenagem a José Bonifácio, gesto simbólico que reconhecia a contribuição dos Andradas à independência brasileira. A visita prosseguiu na Sociedade Italiana de Beneficência, que preparara uma recepção calorosa: alunos e associados formaram alas, lançando pétalas de rosas ao visitante, enquanto cantavam o Hino Italiano e, logo depois, o Nacional. No salão nobre, o embaixador foi saudado pelo presidente da sociedade, commendador Augusto Mariangeli, e, emocionado, retribuiu as homenagens, chegando a entregar prêmios a estudantes da Escola Alexandro Manzoni antes de participar de um ágape oferecido pela instituição.
Após percorrer as praias, o monumento dos Andradas e a faixa do cais, sempre acompanhado de autoridades locais, o barão Montagna dirigiu-se àquela que seria uma das etapas mais significativas de sua presença em Santos: a visita à Associação Comercial de Santos, centro irradiador da vida econômica da cidade e ponte natural entre a comunidade santista e o comércio internacional. Recebido pelos diretores e técnicos da instituição, visitou suas oficinas e dependências, observando de perto o vigor da praça exportadora que, já naquela época, se destacava como uma das mais importantes do país. A ele foi oferecida uma taça de champanhe, ocasião em que o senador Azevedo Júnior, presidente da entidade, saudou oficialmente o representante do governo italiano. Montagna, em resposta, agradeceu a acolhida e brindou à prosperidade do comércio santista e ao fortalecimento das relações ítalo-brasileiras, destacando a dinâmica econômica de Santos como elemento essencial na aproximação entre os dois países.
Encerrada a visita à Associação Comercial, o embaixador ainda percorreu o palácio da Bolsa Oficial do Café — que o impressionou por suas obras de arte e imponência arquitetônica — e seguiu até a praça Ruy Barbosa, onde prestou homenagem ao monumento dedicado ao padre Bartholomeu de Gusmão. Às 17 horas, após uma jornada marcada por demonstrações de respeito, cordialidade e simbolismos diplomáticos, o barão Julio Cesar Montagna deixou a cidade, regressando à capital ao lado de seu secretário. Sua breve passagem por Santos deixou registrada, tanto nos anais oficiais quanto na memória da comunidade, a importância das relações internacionais na formação histórica da cidade e o papel central da Associação Comercial como anfitriã e articuladora de pontes culturais e econômicas entre o Brasil e o mundo.

Quem foi o Barão Julio Cesar Montagna (embaixador da Itália)
Julio Cesar Montagna foi um dos mais destacados diplomatas italianos da primeira metade do século XX, reconhecido por sua habilidade conciliadora e pela capacidade de mediar conflitos em um período marcado por tensões internacionais. De longa carreira no corpo diplomático, formou-se em ambientes onde a diplomacia ainda dividia espaço com a força militar como instrumento das relações exteriores, o que valorizou ainda mais seu estilo marcado pela prudência, serenidade e refinado savoir-faire.
Participou de diversas comissões interaliadas, especialmente na Polônia, e integrou a Delegação Italiana no Congresso da Paz, após a Primeira Guerra Mundial, ocasião em que seu espírito equilibrado se tornou amplamente reconhecido. Destacou-se de maneira especial na Conferência de Lausanne, onde foi definitivamente assinada a paz entre as potências aliadas e a Turquia — momento em que sua atuação foi considerada tão eficaz que o governo italiano o nomeou, logo em seguida, Embaixador Extraordinário em Constantinopla. Foi, segundo relatos da época, o primeiro diplomata a se instalar na nova capital turca, Angora (atual Ancara), superando grandes dificuldades logísticas e políticas.
Sua trajetória o levou posteriormente ao posto de embaixador da Itália no Brasil. Em 1926, durante missão oficial ao Estado de São Paulo, visitou Santos, onde foi recebido com grandes honras por autoridades civis, membros da colônia italiana e representantes da Associação Comercial de Santos. Além da competência técnica, sua simplicidade e afabilidade lhe renderam profunda admiração daqueles que tiveram contato com ele.
Viajava frequentemente acompanhado da esposa, da embaixatriz, e de seus filhos, além do secretário Galeazzo Ciani, filho do ministro italiano das Comunicações. O Barão Montagna permanece lembrado como um diplomata exemplar, símbolo de cortesia, habilidade política e dedicação ao fortalecimento das relações ítalo-brasileiras.

Con senso di sincera ammirazione por questa illustre istituzione che è “vestito” d’onore del grande progresso economico di Santos e per esso del Brasile.
Santos 5 Febbraio 1926
G. C. Montagna (Giulio César – Julio César)
Ambasciatore d’Italia
Com sentimento de sincera admiração por esta ilustre instituição, que é revestida de honra pelo grande progresso econômico de Santos e, por ele, do Brasil.
Santos, 5 de fevereiro de 1926
G. C. Montagna
Embaixador da Itália