A obra “A Libertação da Pátria” é um dos tesouros artísticos da Associação Comercial e da cidade de Santos
No coração da Associação Comercial de Santos (ACS), entre as relíquias que narram a história do comércio brasileiro, brilha uma joia rara: a obra “A Libertação da Pátria”, do renomado artista plástico Carlos Oswald. Adquirida em 1923, durante a reabertura da sede da Associação, a peça não apenas enfeita suas paredes, mas também encerra em si uma profunda conexão com a identidade nacional e a expressão artística.
Carlos Oswald, nascido em 1882 e falecido em 1971, deixou um legado inestimável para a arte brasileira, sendo um dos precursores da gravura no país. Uma de suas contribuições mais emblemáticas foi sem dúvida o desenho final do Cristo Redentor, símbolo máximo do Rio de Janeiro e uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo. A sugestão de Oswald para que a estátua fosse esculpida de braços abertos transformou-a em uma cruz luminosa sobre o Corcovado, vista de qualquer ponto da cidade, um verdadeiro ícone de acolhimento e fé.
Produzido em 1913, “A Libertação da Pátria” é um testemunho da habilidade de Oswald em capturar a essência dos ideais e dos valores que moldam a nação brasileira. Através de figuras alegóricas, o pintor tece uma narrativa visual que enaltece as diversas forças da sociedade, cada personagem simbolizando um setor vital para a construção e o desenvolvimento do país.
Outras obras
Além de “A Libertação da Pátria”, Oswald honrou a ACS com os retratos dos ex-presidentes Francisco de Andrade Coutinho e Antonio Teixeira Assumpção Neto, imortalizando sua contribuição para a história do comércio em Santos. Essas obras, juntamente com as de Benedicto Calixto, outro ilustre artista que enriquece o acervo da ACS, compõem um valioso patrimônio cultural e artístico, tornando a Associação um importante polo de preservação da memória e da identidade nacional.
O acervo da ACS, incluindo a obra-prima de Carlos Oswald, não apenas embeleza suas instalações, mas também serve como fonte de inspiração e reflexão para todos que a visitam. “A Libertação da Pátria” permanece como um símbolo poderoso dos ideais que guiaram o Brasil ao longo de sua história, um lembrete eterno da importância da liberdade, da justiça e da unidade na construção de uma nação forte e coesa.
As figuras alegóricas
O quadro de Oswald traz simbolismos importantes através da figuras humanas ali retratadas. São elas:
A Pátria
A pátria está representada na figura do homem nú (que remete à ideia de nascimento). Porém, ele mesmo, a pátria, já na fase adulta, se revela um homem forte e de futuro promissor, pronto para iniciar sua jornada. Atrás dele, está a bandeira do Brasil, que remete à identidade que a pátria simbolizará. O homem está sendo desamarrado pela figura da Liberdade (Libertas) e, de cabeça erguida, sente-se aliviado por ter tido a oportunidade de mudar seu rumo, bem como de todos os seus filhos (cidadãos).
A Liberdade (Liberta)
A Liberdade está representada pela figura da deusa alada (note-se suas enormes asas brancas), oriunda da mitologia grega. Ela também representa o símbolo da vitória desde os tempos antigos. No contexto do quadro de Carlos Oswald, a deusa da Liberdade desamarra as mãos da pátria, permitindo que ela possa caminhar sozinha em busca de prosperidade.
A Lei e a Justiça (Lei e Jus)
O velho homem representa nesta obra a Lei, a Ordem e a Justiça, elementos indispensáveis para a prosperidade da pátria. Ele carrega, em seus braços, o livro das Leis, que deverão nortear as regras do país livre e soberano.
As Instituições (Institutio)
As instituições formam o pilar da sociedade, caminhando sempre ao lado da lei e conduzindo o futuro, representado pela criança, a inocência. Seu papel é preparar a pátria para todos os momentos, de bonança ou dificuldades, garantindo prosperidade para as futuras gerações.
Arte (Ars)
Ao lado da ciência e do trabalho, a arte, representada pela figura feminina, com uma coroa de flores, ocupa um papel importante na identidade nacional, protegendo as tradições e o fazer cultural do povo. Uma nação sem arte é como um corpo sem alma. É como se não existisse uma identidade.
Ciência (Scientia)
Uma nação, para ser próspera, precisa do auxílio da ciência, do conhecimento, da tecnologia. Representada por uma figura de aspecto pensativ, sempre está criando e elaborando soluções para os problemas mais sérios de uma sociedade.
Trabalho (Labor)
O trabalho é a base principal de qualquer sociedade. Nada se constrói ou evolui sem a força do trabalho que, no quadro, se posta de joelhos, colocando-se de forma submissa (à disposição) da pátria, para quando ela assim quiser.
Inocência (Innocentia)
A inocência, representada pela figura da criança desnuda, releva o futuro da nação, ainda livre das mazelas que se acumulam ao longo da vida de cada um. A criança está protegidas pela caridade que, a deixa perto da Justiça e da Liberdade. As flores em seu entorno representam o campo fértil para uma evolução saudável e próspera.
A obra decora a Sala de Reuniões principal da Associação Comercial de Santos