III Seminário do Café destaca-se pela presença de personalidades importantes do cenário cafeeiro mundial


A terceira edição do Seminário Internacional do Café, realizada entre 26 e 29 de maio de 1974,  aconteceu, como das vezes anteriores, no Guarujá. A Associação Comercial de Santos (ACS), reconhecendo o sucesso do evento anterior, abriu as inscrições prioritariamente para participantes estrangeiros, que chegaram a ultrapassar a marca de uma centena em poucos dias, evidenciando o interesse internacional no evento. Posteriormente, os interessados brasileiros tiveram a oportunidade de se registrar, totalizando 300 inscritos ao final, entre os quais 140 estrangeiros e 160 brasileiros, refletindo um equilíbrio entre as participações nacional e internacional.

Naquele ano, o evento destacou-se pela presença de personalidades importantes do cenário cafeeiro mundial, como Jaques Louis Delamare, da França, George E. Boecklin, presidente da National Coffee Association dos Estados Unidos, além de Alexandre Fontana Beltrão, secretário-executivo da Organização Internacional do Café (OIC). Eles abordaram uma gama de temas significativos, desde a projeção para o café até o final da década de 70, passando pela qualidade da produção do grão, até as novas tendências de consumo que incluíam o café descafeinado e solúvel.

A abertura oficial dos trabalhos ficou a cargo de Camilo Calazans de Magalhães, presidente do Instituto Brasileiro do Café (IBC), enquanto o encerramento foi realizado pelo então ministro da Indústria e Comércio, Severo Gomes. Este último apresentou a visão do governo Ernesto Geisel para o setor cafeeiro, destacando a importância da rubiácea para a economia brasileira e a necessidade de defesa dos preços do café brasileiro no mercado internacional.

Durante o seminário, François Le Chavalier, representante da firma francesa Jaques Louis Delamare, alertou os produtores brasileiros sobre a importância da melhoria na qualidade da produção do grão. Ela seria essencial para garantir maiores ganhos financeiros e aumentar a lucratividade nas exportações. O conselho refletia a crescente demanda global por produtos de alta qualidade e a necessidade do Brasil de manter sua posição competitiva no mercado internacional.

George Boecklin trouxe uma análise das perspectivas do café brasileiro nos Estados Unidos, enfatizando como a Segunda Guerra Mundial fora um marco para a expansão das exportações brasileiras para o mercado norte-americano. Ele também chamou a atenção para as novas exigências do mercado, cada vez mais refinado e exigente, incluindo a demanda por novos produtos como o café descafeinado e solúvel.

O encerramento do seminário foi marcado por discursos inflamados. Enquanto Severo Gomes prometeu uma defesa intransigente do preço do café brasileiro no mercado internacional, Alexandre Beltrão, da OIC, defendeu a não intervenção governamental na definição de preços do café, alertando para as consequências da eliminação do pequeno produtor e da concentração do mercado nas mãos de grandes empresários. Este ponto de vista gerou preocupações sobre a sustentabilidade e a equidade dentro do setor cafeeiro.

Apesar do reconhecimento pela boa organização e pelo alto nível das discussões, a imprensa refletiu um certo desapontamento entre alguns participantes pela falta de anúncios de impacto imediato para o setor cafeeiro por parte dos representantes do governo federal. Esta percepção não diminuiu, contudo, o valor geral do seminário, que reuniu cerca de 500 participantes, entre nacionais e estrangeiros, e reafirmou seu papel como uma plataforma vital para debate, troca de ideias, e formulação de estratégias para enfrentar os desafios futuros do mercado cafeeiro.

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