A cidade de Santos guardava lembranças especiais da figura de Epitácio Pessoa. Ainda em 1921, quando exercia a Presidência da República, ele viera ao porto santista para um ato que se tornaria histórico: o assentamento da pedra fundamental do edifício-sede da Associação Comercial de Santos. Naquele dia, em meio a grande solenidade, coube ao chefe de Estado lançar as bases de um prédio erguido pela Companhia Construtora de Santos, que, concluído em 1924, se transformaria no símbolo da pujança cafeeira e no coração das atividades empresariais da cidade.
Treze anos depois, em 13 de novembro de 1934, o ex-presidente retornava a Santos em circunstâncias diferentes. Não mais como governante em exercício, mas como estadista reverenciado, voltava de viagem à Argentina a bordo do transatlântico italiano Neptunia. A embarcação, ao atracar em frente ao armazém n.º 16, trouxe ao porto o paraibano ilustre e sua esposa, recebidos com calorosas manifestações de estima.
O salão principal do navio transformou-se em espaço de diálogos e homenagens. Representantes da Associação Comercial, do Centro dos Exportadores e do Centro dos Comissários de Café, além de autoridades da Alfândega e famílias santistas, subiram a bordo para cumprimentá-lo. Entre flores, discursos e recordações de sua trajetória, o nome de Epitácio Pessoa voltou a soar com a grandeza de quem já escrevera capítulos decisivos da República.
O reencontro com a Associação Comercial
Após as saudações a bordo, Epitácio Pessoa desceu à cidade e foi conduzido à Associação Comercial de Santos, local que já o guardava na memória desde a solenidade de 1921. Agora, de volta ao mesmo edifício cuja pedra fundamental ajudara a lançar, encontrou uma casa consolidada, ativa e ainda mais importante para a vida econômica nacional.
Na sede da entidade, foi recebido pela diretoria com deferência e gratidão. Ali realizou o gesto que o ligou definitivamente à história documental da instituição: inscreveu sua assinatura no Livro de Ouro da Associação Comercial de Santos. Aquele traço firme uniu duas passagens de sua vida pública à memória santista — a do presidente que, em 1921, lançou as bases materiais da sede, e a do estadista que, em 1934, eternizou seu nome no livro que reúne as maiores personalidades do país.
A visita não se restringiu ao protocolo. Em amena conversa, Epitácio Pessoa abordou o futuro do comércio cafeeiro, os desafios políticos do Brasil e o papel de Santos como entreposto vital da economia. Entre abraços, discursos e recordações, sua presença reforçou o vínculo entre a história nacional e a trajetória da Associação Comercial.
Antes de regressar ao navio, o ex-presidente ainda passou pela Bolsa Oficial de Café e realizou breve passeio pela cidade, cercado de manifestações de apreço. Ao entardecer, o Neptunia partiu rumo ao Rio de Janeiro, levando consigo o casal e deixando em Santos a lembrança de uma visita carregada de simbolismo.
