1870-1884: Os Primeiros Passos e a Busca por uma Sede Própria
Nos primeiros quinze anos, desde a fundação da Associação Comercial de Santos (ACS) em 1870, um dos principais desafios da entidade foi a obtenção de uma sede própria que permitisse consolidar suas atividades e oferecer um ponto de encontro adequado para seus associados. No início, a ACS funcionou de maneira provisória em um espaço cedido gratuitamente pelo Comendador Nicolau Vergueiro, um dos fundadores e primeiro presidente da instituição, localizado na Rua da Praia.
A necessidade de um local definitivo virou meta da primeira Diretoria Provisória, que permaneceu no comando da entidade por quase quatro anos. Com o objetivo de garantir uma sede que refletisse a importância do comércio santista, a ACS instituiu um Fundo Social, arrecadando 80:000$000 (oitenta contos de réis, equivalente a R$ 4 milhões em 2025) por meio de uma subscrição entre os associados. Paralelamente, uma comissão de figuras influentes foi designada para buscar um terreno adequado para a construção da primeira sede.
Em um gesto de generosidade, a tradicional família Vieira Carvalhais ofereceu um terreno na Rua da Praia, atual Rua Tuiuti, próximo ao Mercado de Peixe. A doação foi feita por D. Ana Zeferina Vieira Carvalhais, filha do Coronel José Antônio Vieira de Carvalho e esposa do negociante português Barnabé Francisco Vaz de Carvalhais. No entanto, a Diretoria da ACS optou por não utilizar o terreno, temendo que as futuras obras de melhoramento do Porto pudessem alterar as condições topográficas da região.
Enquanto uma solução definitiva não era encontrada, a ACS continuou funcionando provisoriamente no sobrado do Comendador Vergueiro. Com o crescimento da entidade e a necessidade de uma estrutura mais apropriada, a Diretoria decidiu alugar um imóvel na Rua do Consulado, atual Rua Frei Gaspar. A locação, iniciada em 1º de fevereiro de 1875, foi um ponto chave na história da Associação, pois, pela primeira vez, os associados contavam com um espaço estruturado, incluindo um salão de leitura abastecido com jornais nacionais e estrangeiros, quadros de cotação do café e uma biblioteca social.
A busca por uma sede definitiva, no entanto, permanecia uma prioridade. Em 1881, sob a presidência do Barão de Embaré, a ACS cogitou adquirir o prédio do extinto Banco Mauá & Cia., localizado na Rua do Consulado. Apesar do interesse demonstrado pela Assembleia Geral da Associação, o alto valor pedido pelos liquidantes da massa falida inviabilizou a compra do imóvel.
A solução definitiva começou a se desenhar em 1883, quando a entidade adquiriu um terreno na Rua 25 de Março, atual Rua 15 de Novembro, onde havia um prédio incendiado. O imóvel foi adquirido por 25:000$000 (vinte e cinco contos de réis, equivalente a R$ 1,25 milhão em 2025), e os membros da Diretoria, João Otávio dos Santos, Alves Lima e Gustavo Backheuser, ficaram responsáveis pela reconstrução do prédio.
1884-1908: A Primeira Sede Própria e a Expansão da ACS
A obra de recuperação deste prédio que se tornara a primeira sede própria foi concluída em 1884, ainda sob a gestão do Barão de Embaré. O edifício, localizado no número 55 da Rua 25 de Março (Rua XV), tinha dois pavimentos e apresentava uma estrutura robusta, com três janelas de sacada no pavimento superior e três portas no térreo. O custo total do empreendimento foi de 65:000$000 (sessenta e cinco contos de réis, equivalente a R$ 3,2 milhões em 2025), sendo 42:000$000 (quarenta e dois contos de réis – R$ 2,1 milhões) pagos diretamente pela ACS e o restante financiado pelo Visconde de Embaré, que forneceu um empréstimo com juros de 7% ao ano.
Para garantir a viabilidade financeira da construção, parte do espaço foi arrendada. O corretor Walter Wright alugou o pavimento superior, enquanto o tabelião Antônio Luís Ribeiro ficou responsável pela locação do armazém situado ao lado do mar, mediante um contrato de cinco anos. Em 1890, a ACS também arrendou parte do edifício ao Correio, pelo valor de 350$000 (trezentos e cinquenta mil réis, R$ 17 mil) mensais, e, posteriormente, à Companhia Lunton e à firma Puglisi & Carbone.
Após 24 anos de funcionamento na primeira sede própria, o crescimento das atividades da Associação Comercial exigiu uma nova ampliação. Em 1907, a entidade permutou um terreno na Rua 24 de Maio (Rua Riachuelo), anteriormente doado por D. Ana Zeferina, por uma área contígua à sua sede, possibilitando a ampliação do edifício. O projeto de reconstrução foi conduzido pela firma Nicolau Spagnuolo & Cia., com um orçamento inicial de 60:000$000 (sessenta contos de réis, R$ 3 milhões), mas o custo total da reforma e mobiliário alcançou 100:000$000 (cem contos de réis, R$ 5 milhões).
A nova sede foi reinaugurada em 22 de dezembro de 1908, durante a gestão de Francisco Marcos Inglês de Sousa. O prédio reformado manteve os dois pavimentos e refletia a importância da ACS no cenário comercial de Santos, contando com espaços amplos e bem estruturados. Para reduzir os custos operacionais, a Diretoria arrendou parte do pavimento inferior ao Banco do Brasil, inicialmente por um aluguel mensal de 750$000 (setecentos e cinquenta mil réis, R$ 37,5 mil.
1920-1924: A Construção da Terceira Sede
Menos de duas décadas após a reforma do prédio, o crescimento da ACS e a ampliação das atividades comerciais de Santos tornaram necessária uma nova mudança. Em 1920, sob a gestão de Antônio da Silva Azevedo Júnior, foi aprovado o projeto de construção de um prédio 100% novo, elaborado pela Companhia Construtora de Santos, presidida por Roberto Côrrea Simonsen. O velho edifício seria totalmente demolido a partir dali.
Com o terreno totalmente limpo, a cerimônia de lançamento da pedra fundamental ocorreu em 21 de agosto de 1921, contando com a presença do então presidente da República, Epitácio Pessoa, do Governador de São Paulo, Dr. Washington Luís, e de diversas autoridades municipais e estaduais. No entanto, a obra enfrentou desafios jurídicos, como a ação movida por D. Albertina Chamber de Sousa, que alegava invasão da parede divisória de seu imóvel vizinho. Após uma disputa judicial, a ACS conseguiu retomar as obras, que foram concluídas em 1924, com um custo total de 1.155:044$565 (um milhão, cento e cinquenta e cinco contos e quarenta e quatro mil e quinhentos e sessenta e cinco réis).
Para financiar a construção, foram realizadas diversas operações financeiras, incluindo um empréstimo com o Banco Comercial do Estado e a arrecadação de cotas subscritas pelos associados. Em 1928, um grupo de 66 sócios decidiu doar suas cotas à ACS, contribuindo com 600:000$000 (seiscentos contos de réis, equivalente a R$ 15 milhões em 2025) para aliviar as despesas da entidade. Como forma de reconhecimento, a Associação inaugurou uma placa de bronze no Salão Nobre em homenagem aos doadores.
A Sede Atual e as Tentativas de Construção de uma Nova Estrutura
A partir de 1924, a ACS passou, então, a reutilizar sua sede da Rua XV de Novembro, edifício que se tornou um dos marcos arquitetônicos do centro comercial de Santos. O prédio, que também abrigou outras instituições como o Montepio Comercial e a Caixa Beneficente dos Auxiliares do Comércio Cafeeiro, passou a ter quatro pavimentos, incluindo o salão nobre, auditório, escritórios, espaços para reuniões e eventos.
Ao longo das décadas, outras tentativas foram feitas para construir sedes maiores, especialmente durante as gestões de Geraldo de Melo Peixoto (1953-1956), Álvaro Augusto Bueno Vidigal (1959-1960) e Francisco Luís Cunha Bueno (1961-1962). Em 1967, a ACS chegou a propor uma parceria com o Instituto Brasileiro do Café (IBC) para a construção de um edifício de 14 andares, mas o projeto não avançou.
O edifício atual, inaugurado em 1924, tem passado por diversos processos de manutenção, incluindo reformas internas e restauração da fachada, como a realizada em 2016. Em 2025, por ocasião do centenário da construção, novas intervenções estão sendo conduzidas para preservar sua imponência e garantir que continue sendo um dos marcos arquitetônicos mais importantes do Centro Histórico de Santos.