A Visita da Delegação Francesa à Associação Comercial de Santos em 26 de Abril de 1951

No dia 26 de abril de 1951, a Associação Comercial de Santos recebeu a visita de uma delegação francesa, liderada por A. J. Arioux, presidente da Federação Nacional do Comércio de Cafés Verdes da França. A comitiva havia chegado na cidade na noite anterior, com o propósito de debater assuntos relacionados à reabertura da Bolsa de Café do Havre e à criação, naquele porto francês, de um entreposto distribuidor do produto brasileiro.

Arioux esteve acompanhado de Ginoux, adido comercial francês em São Paulo, de Pierre Patry, cônsul da França em Santos, de Jacques Leturcaux, representante geral da Chargeurs Reunis no Brasil, além de outras personalidades da colônia francesa. A recepção ocorreu na sede da Associação Comercial de Santos, pela diretoria da entidade.

Em nome da instituição, Mariano de Laet Gomes saudou os visitantes, ressaltando os laços de amizade e cooperação entre Brasil e França. Destacou a simpatia existente na praça santista em torno do movimento pela reabertura da Bolsa de Café do Havre, manifestando esperança na superação definitiva dos obstáculos enfrentados.

Declarações de A. J. Arioux

O presidente da Federação Nacional do Comércio de Cafés Verdes agradeceu as manifestações de apreço recebidas e apresentou panorama da situação do comércio de café na França. Recordou que, desde fevereiro de 1950, quando foi parcialmente instituída a liberdade de comércio, a federação passou a atuar para restaurar a normalidade das negociações e reativar o mercado a termo.

Arioux destacou que, naquele momento, importadores franceses enfrentavam margens de lucro reduzidas, não superiores a 4%, mesmo arcando com os riscos decorrentes da queda de preços. Ressaltou a importância da arbitragem como instrumento para assegurar o funcionamento do mercado de café a termo, apesar das dificuldades agravadas por acontecimentos internacionais, como a Guerra da Coreia, a instituição do ceiling-price e o fechamento temporário do mercado de Nova York.

Situação na França

Em sua exposição, Arioux apresentou dados sobre o consumo de café na França e sobre as possibilidades de expansão desse consumo, por meio de campanhas de propaganda e de uma distribuição mais eficaz. Comparou a produção do império colonial francês, insuficiente para suprir a demanda, e declarou que o Brasil representava o fornecedor natural para atender à quota necessária.

Acrescentou que, além da superior qualidade do café brasileiro e da tradição de honestidade do comércio cafeeiro de Santos, havia na França uma simpatia histórica pelo Brasil, fator que reforçava a preferência pelo produto nacional. Informou que o Ministério da Indústria e Comércio francês, o Ministério da França Ultramarina e a Secretaria de Estado dos Negócios Econômicos manifestaram apoio ao projeto de criação do entreposto e à reabertura da Bolsa de Havre.

Liberdade de Preços e Estoque

Arioux enfatizou que a concretização do projeto dependia da liberdade integral de preços, com abandono das regulamentações em vigor. Assinalou a necessidade de constituir estoque regulador permanente de pelo menos 300 mil sacas, destinado a garantir estabilidade ao comércio. Informou ainda que o porto de Havre, apesar das destruições da guerra, encontrava-se reequipado, com cais, armazéns e depósitos em condições adequadas.

Bolsa Provisória

O dirigente francês defendeu a constituição de uma Bolsa provisória, já que a Caixa de Liquidação encontrava-se pronta para operar. Um regulamento adaptado às circunstâncias havia sido elaborado pela Câmara de Comércio e aguardava homologação do Ministério do Comércio, cujos serviços especializados manifestaram concordância preliminar.

Encerrando as declarações, Arioux afirmou que na França se reconhecia a simpatia e o apoio existentes no Brasil, em especial em Santos, para a restauração do mercado de café a termo no Havre, expressando confiança na superação das dificuldades ainda remanescentes.

Almoço no Clube da Bolsa

Após a reunião oficial, a diretoria da Associação Comercial ofereceu almoço no Restaurante do Clube da Bolsa em homenagem à comitiva francesa. Durante o encontro, os visitantes foram saudados por Tarquínio Marques Ferreira, diretor da entidade e presidente do Departamento dos Exportadores de Café. Arioux respondeu com palavras de agradecimento.

Registro Histórico

A passagem da delegação francesa pela Associação Comercial de Santos foi registrada no Livro de Ouro da entidade, consolidando a relevância da visita e reafirmando os laços históricos de cooperação entre Brasil e França no comércio internacional de café.

Registro e assinaturas dos representantes da Comissão Francesa de café

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