Associação Comercial de Santos manifesta pesar pelo regicídio em Portugal em 1908

Assassinato do Rei D. Carlos I e do príncipe herdeiro, D. Luiz Felipe, chocou o mundo.

Em fevereiro de 1908, a Associação Comercial de Santos enviou telegramas ao Encarregado de Negócios de Portugal no Brasil e ao vice-cônsul português em Santos expressando pesar pelo assassinato do rei D. Carlos I e de seu filho, o príncipe herdeiro D. Luiz Felipe, em Lisboa. O atentado, que teve ampla repercussão internacional, gerou forte comoção entre a comunidade portuguesa no Brasil e reforçou os laços históricos entre os dois países.

No telegrama dirigido ao Encarregado de Negócios de Portugal, a Associação Comercial de Santos condenou o crime e manifestou solidariedade à Família Real Portuguesa e ao governo lusitano. A mensagem destacava os vínculos históricos, culturais e econômicos entre Brasil e Portugal e ressaltava o impacto do atentado na colônia portuguesa residente em Santos, onde sua presença era significativa no desenvolvimento local.

Um ofício semelhante foi encaminhado ao vice-cônsul português na cidade, reafirmando o sentimento de indignação e luto da comunidade santista. O documento, assinado pelo presidente da entidade, Francisco M. Inglez de Souza, e pelo primeiro secretário, Antonio de Freitas Guimarães Sobrinho, evidenciava a proximidade entre os dois povos e a relevância da colônia portuguesa no cenário econômico e social da região.

A manifestação da Associação Comercial de Santos refletiu a posição da cidade no início do século XX como um importante centro econômico e reafirmou a solidariedade brasileira em um momento de crise para a monarquia portuguesa.

O REGICÍDIO

D. Carlos (r. 1889-1908) e o príncipe herdeiro Luís Filipe (1887-1908) morreram assassinados na Rua do Arsenal, em Lisboa, no dia 1 de fevereiro de 1908, pouco depois das 17h. No dia seguinte, o relatório ao exame do cadáver do rei indicava que a morte havia sido provocada por dois projéteis, ambos pelas costas. O príncipe Luís Filipe foi também atingido por duas balas, tendo uma delas perfurado o crânio.

O contexto histórico explica em grande parte este assassinato. A partir de maio de 1907, dissolvida a Câmara dos Deputados, João Franco (1851-1929), presidente do Conselho de Ministros, passou a governar em ditadura. Contando com uma crescente oposição republicana nas ruas, na universidade (em greve desde março) e no parlamento, mas também com o afastamento de alguns setores monárquicos regeneradores e progressistas, Carlos passou de monarca constitucional a soberano diretamente implicado na condução política do reino. A animosidade para com a Casa Real foi ainda reforçada pela questão dos adiantamentos para uso da família reinante, quantias exorbitantes num país com ordenados muito baixos e elevado custo de vida.

Com eleições marcadas para 5 de abril de 1908, os revolucionários posicionaram-se para alcançar uma solução antes do ato eleitoral, temendo a vitória de João Franco. A 28 de janeiro, um primeiro movimento, constituído por republicanos e dissidentes progressistas fracassa junto ao Elevador da Biblioteca (com acesso pela Praça do Município). Três dias depois, o monarca, então ainda em Vila Viçosa, assinou o decreto que ordenava a deportação dos revoltosos para colónias africanas. No dia 1 de fevereiro, regressando a família real do Alentejo a Lisboa, abriu-se a oportunidade de eliminar o monarca.

O regicídio foi executado por Manuel Buíça (1876-1908) e Alfredo Costa (1883-1908), dois militantes republicanos que foram de seguida abatidos pela polícia. Um terceiro homem foi morto naquela ocasião, João Sabino da Costa (1887-1908), oficial de ourives, posteriormente considerado inocente. Seguiu-se um breve período de “acalmação”. D. Manuel II foi aclamado e formou governo com os setores monárquicos contestatários de João Franco, que se viu obrigado a sair do país.

Os corpos do rei e do infante foram embalsamados a 2 de fevereiro e o funeral realizou-se no dia 8 desse mês. O cortejo fúnebre saiu do Palácio das Necessidades rumo ao Mosteiro de São Vicente de Fora, panteão dos Bragança, passando pela Rua do Arsenal, cenário do regicídio.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *