Na década de 1870, o Império do Brasil não podia mais se dar ao luxo de ignorar o vigoroso desenvolvimento da Província de São Paulo e seu porto estratégico. Nesse período, o café emergia como o catalisador dos recursos financeiros necessários para consolidar a posição do país como uma potência global. Santos desempenhava um papel central neste cenário, responsável pelo escoamento de 80% do café, o principal produto de exportação brasileiro, conhecido internacionalmente como o “ouro verde brasileiro”.
A iniciativa liderada por empresários visionários como Nicolau Vergueiro, Ignácio Wallace da Gama Cochrane, William Wright, Gustavo Backeuser e José Azurem Costa ganhou força expressiva, mobilizando os diversos setores e classes comerciais de Santos. A emblemática reunião de 22 de dezembro, que culminou na fundação da Associação Comercial de Santos, reverberou até a capital do país, impulsionando o governo central a reconhecer a importância de promover a autonomia comercial da cidade santista, visando a eficiência e a redução de custos nas operações de exportação.
Nesse contexto de mudanças, uma diretoria provisória foi eleita para gerir a Associação Comercial, formada pelos protagonistas daquela mobilização. O grupo assumiu a responsabilidade de arrecadar fundos, estabelecendo um capital inicial de 80:000$000 (oitenta contos de réis) para a compra de um terreno para sua sede , além da aquisição de mobiliário e a formação de um acervo para a futura biblioteca comercial. Além disso, dedicaram-se à elaboração do primeiro Estatuto Social da ACS, que seria enviado ao Rio de Janeiro para a obtenção do reconhecimento oficial pelo Governo Imperial, marcando um passo significativo na consolidação da autonomia e do desenvolvimento comercial de Santos.
O processo de fundação e reconhecimento legal da Associação Comercial de Santos (ACS) alcançou um sucesso retumbante. Com uma eficiência notável, os líderes da nova entidade mobilizaram os recursos necessários e, já em 14 de fevereiro de 1871, finalizaram a elaboração do Estatuto Social, composto por 44 artigos. Esse documento foi prontamente enviado à capital imperial, onde passou pela avaliação do governo e, finalmente, obteve aprovação por meio do Decreto nº 4.738, em 7 de junho de 1871. Este instrumento legal, sancionado pela princesa regente Isabel Cristina durante a ausência do Imperador D. Pedro II, conferiu à ACS a autorização essencial para seu funcionamento e aprovou formalmente seus estatutos.
Após a aprovação, o estatuto foi oficializado na Alfândega da capital brasileira e registrado no Tribunal de Comércio do Rio de Janeiro, consolidando juridicamente a instituição. No entanto, a oficialização definitiva através da promulgação do Decreto Imperial foi adiada até 29 de março de 1874, quando finalmente foi publicado no Diário Oficial, devido aos procedimentos burocráticos do Tribunal de Comércio.
Com a publicação oficial do decreto, a ACS estava pronta para eleger sua primeira diretoria definitiva. Esta eleição histórica ocorreu em 27 de setembro, durante a primeira Assembleia Geral da entidade. Presidida pelo tenente-coronel Theodoro de Menezes Forjaz e secretariada por Luís José dos Santos Dias e Bento Tomás Viana, a assembleia teve lugar na mesma residência número 38 da Rua da Praia, cenário da reunião fundadora em 22 de dezembro de 1870. O comendador Nicolau Vergueiro, que viria a ser eleito o primeiro presidente da ACS, generosamente ofereceu sua propriedade para servir como sede provisória da associação, solidificando seu compromisso com o avanço comercial e o desenvolvimento da cidade de Santos.
A histórica Assembleia Geral da Associação Comercial de Santos (ACS), realizada no dia 27 de setembro, registrou a presença marcante de 94 associados. Todos os presentes foram honrados com o título de “fundadores” da ACS, reconhecimento que, em 1904, seria estendido a um total de 106 membros, correspondendo ao número de inscritos para aquela reunião inaugural.
O comendador Nicolau José de Campos Vergueiro foi o primeiro presidente da Associação Comercial de Santos
A formação da primeira diretoria refletiu a estatura e o compromisso dos líderes empresariais da cidade com o projeto da ACS. Nicolau Vergueiro assumiu a presidência, trazendo sua visão e liderança para o cargo. O Barão de Embaré, Antônio Ferreira da Silva Júnior, foi eleito vice-presidente, enquanto Ignácio Wallace da Gama Cochrane ocupou o cargo de primeiro secretário, e José de Azurem Costa foi designado tesoureiro, formando assim a espinha dorsal da gestão inicial da Associação.
Completando a diretoria, figuraram como membros João Antônio Teixeira, José Ricardo Wright, Rodolfo Würsten, Carlos Wagner e Henri Leuba, personalidades influentes que se dispuseram a contribuir com suas experiências e recursos para o engrandecimento do comércio local e o desenvolvimento econômico de Santos. Esta formação inicial da diretoria simbolizou o comprometimento coletivo dos empresários da cidade na construção de uma base sólida para a ACS, garantindo seu sucesso futuro e a prosperidade do comércio santista.