A linda placa que ornamenta, ainda hoje, o exterior do prédio da Associação Comercial de Santos carrega o retrato de uma época e a representação do que significava o comércio santista e a instituição que o representava. Essa história remonta a 1926, com os preparativos para a celebração do Bi Centenário da entrada do café no Brasil que seria comemorada em 1927.
Na atmosfera das grandes Exposições Universais, os agricultores paulistas se mobilizaram para organizar a Grande Exposição do Café que aconteceria em São Paulo.
Os Estados produtores ou envolvidos com o setor cafeeiro foram convidados a participar da Grande Exposição. O local escolhido para o evento foi o imponente edifício do Palácio das Indústrias na capital paulista
Cada Estado montou seu pavilhão para a exposição de seus produtos, máquinas, mostra de técnicas de plantio, colheita e beneficiamento. O pavilhão de São Paulo foi projetado e executado pelo renomado arquiteto Ramos de Azevedo,
A Grande Exposição do Café foi inaugurada em 12 de outubro de 1927 com discurso do Presidente do Estado de São Paulo, o Sr Júlio Prestes, contando com a presença dos Presidentes dos Estados participantes, Prefeitos das cidades que se apresentaram, membros de instituições ligadas ao comércio e à indústria.
A Exposição contou também com apresentação da cultura, fauna e flora de cada Estado participante, inauguração de monumentos, homenagens a personalidades importantes para a expansão cafeeira, mostras científicas pela Escola de Farmácia e Instituto Butantã com seu serpentário, novas indústrias e cultivos. Havia sido montada a miniatura de uma fazenda de café e outra que mostrava o complexo ferroviário da Sã Paulo Railway. Em salão principal foi instituído o Congresso do Café, local onde aconteceriam encontros e palestras para a discussão de problemas e soluções para a cultura cafeeira.
Os festejos não repercutiram apenas por todo o país, mas também atraíram a atenção internacional, recebendo visitas de empresas estrangeiras interessadas em negócios com o Brasil. Assim, a exposição cumpriu seu papel de exaltar a riqueza do país, destacando o café como o grande propulsor desse desenvolvimento.
Nesse sentido, Associação Comercial de Santos (ACS), sempre comprometida com os interesses do comércio santista e do setor cafeeiro, garantiu sua participação na Grande Exposição do Café durante as comemorações do Bicentenário do Café
Em dezembro de 1926, a ACS recebeu um convite da Comissão Central do Bicentenário do Café para indicar um representante para a comissão organizadora. O presidente da ACS, Alberto Cintra foi designado para o encargo, após participar, em novembro, da reunião de instalação da comissão responsável pelos preparativos das festividades.
Em janeiro de 1927, o Dr. Rangel Moreira, membro do comitê comemorativo, visitou a diretoria da ACS para discutir sua colaboração e participação durante a exposição. O convite foi recebido com entusiasmo pela diretoria.
Na reunião semanal da comissão organizadora em 7 de março de 1927, o presidente da ACS garantiu o apoio da instituição, comprometendo-se não apenas com a captação de recursos, mas também com a cooperação nos trabalhos da organização do evento.
Em abril do mesmo ano, a Comissão Comemorativa enviou à ACS uma lista para arrecadação de doações junto ao alto comércio santista, com o objetivo de cobrir despesas do evento e da presença da ACS. Imediatamente a Diretoria da associação abriu a lista com a doação de 1:000$000 (um conto de reis) como colaboração da ACS, seguida das contribuições individuais de seus diretores. A pedido das ACS, as empresas santistas acorreram à rogativa e assinaram a lista que contava em setembro um montante de 456:000$000. Constava na lista as assinaturas de firmas comissárias, exportadoras e casas comerciais. A colaboração dos negociantes de Santos foi de tal forma relevante que, pouco antes da abertura da Exposição, a ACS recebeu ofício da comissão organizadora central comunicando que havia sido instituído o “Dia do Comissário de Café” em 31 de outubro, no intuito de homenagear a classe que tanto havia colaborado com a festividade.
No dia da inauguração da Exposição, em 12 de outubro de 1927, a ACS havia montado um setor dentro do Pavilhão São Paulo onde apresentava aos visitantes o sistema completo de classificação de café, demostrando ao público os mais variados tipos de grãos de acordo com a zona de procedência, método de preparo e beneficiamento. Exibia toda a seção comercial onde compôs mostruários com os tipos mais vendáveis na Praça de Santos. Na época, a imprensa noticiava que a organização da mostra da ACS interessava não somente ao público visitante, como também aos comerciantes e fazendeiros, constituindo-se numa verdadeira escola sobre café àqueles que passavam pelo seu stand. O superintendente do pavilhão, Carlos Sardinha, recebia os visitantes com uma xícara de café, torrado, moído e coado de maneira impecável com os melhores grãos comercializados em Santos.
O encerramento da Grande Exposição de Café aconteceu no dia 31 de outubro, com a presença do Presidente da República, Washington Luiz.
Dentre as inaugurações de monumentos da programação do Bicentenário do Café, havia a fixação de uma placa em bronze, oferecida pela Lavoura Paulista à Associação Comercial de Santos em homenagem ao comércio santista através da Comissão Central Organizadora dos festejos. Na placa encontram-se registradas datas importantes como as primeiras exportações, a exportação máxima, fundação da ACS e da inauguração da Bolsa do Café. Sua inauguração ficou marcada para o dia 18 de novembro de 1927.
Na data do evento, a comitiva que veio a Santos estava composta pelo Secretário da Fazenda, Rolim Telles, pelo Secretário da Agricultura, Antônio Gontigio Carvalho, pelos representantes das delegações de vários Estados e membros da Comissão Central do Bicentenário do Café, acompanhados pelo presidente da ACS, Alberto Cintra.
Uma comissão de recepção nomeada pela ACS, através de seu Presidente, representantes das autoridades locais e a imprensa aguardavam os visitante na Estação da Inglesa. Em vagão especial, o Comitê chegou em Santos às12h30.
Após a recepção na estação, por volta de 13h, seguiram visitantes e anfitriões para o Cassino “Monte Serrat” para um grande almoço que os aguardava no salão principal, especialmente enfeitado para a ocasião.
Um breve discurso foi proferido pelo Presidente Alberto Cintra, em que ofereceu a homenagem ao Secretário da Fazenda, Rolim Telles, que agradeceu as honras e o convite para participar da inauguração da placa comemorativa.
Em seus agradecimentos o presidente da ACS saudou também o Governo do Estado, presidido por Júlio Prestes, convicto de que as suas ações firmes e aliadas à união dos produtores impediriam que crises abalassem o setor cafeeiro. Afirmou que o Instituto do Café e a ACS continuariam a auxiliar os lavradores contribuindo para maior riqueza do Brasil. Encerrou o discurso tecendo largos elogios ao Porto de Santos e ao comércio santista
Terminado o banquete, dirigiram-se para a ACS para uma breve visita. A placa comemorativa foi afixada na parte exterior do edifício da associação que representa o comércio de Santos. Ao descerrar o manto que cobria a placa, discursou o sr. Carvalho Barbosa sobre o significado da inauguração da placa e o que ela representava naquele local.
Encerrado o evento, as delegações de São Paulo para lá retornaram no trem que partiu às 16h44.