Celebrando os 250 anos da introdução do café no Brasil, o VI Seminário do Comércio de Café ocorreu entre os dias 31 de maio e 3 de junho de 1977. O evento abordou também as questões relacionadas à conjuntura mundial do produto, especialmente no que tangia à escassez que afetava o mercado global. Destacou-se pela participação de especialistas estrangeiros renomados na área de comercialização e produção de café, como Paul Miller e Edward Rosen dos Estados Unidos, Peter Zurschmiede da Suíça e Lennart Loorf da Escandinávia. Além desses, um representante da Organização Internacional do Café (OIC) foi especialmente convidado para apresentar as estatísticas mundiais sobre estoques, produção e consumo de café, contribuindo para o enriquecimento das discussões.
A cerimônia de abertura foi realizada pelo presidente da Associação Comercial de Santos, Augusto da Silva Saraiva, que enfatizou a magnitude do evento no contexto cafeeiro, especialmente no ano em que se comemorava um quarto de milênio da introdução do café no território brasileiro. Durante sua fala, Saraiva ressaltou a importância de se adotarem medidas que unissem exportadores e importadores na busca por interesses comuns, visando a harmonização e reciprocidade entre as partes.
O Ministro da Indústria e Comércio, Ângelo Calmon de Sá, fez uma defesa veemente de uma justa valorização dos preços do café como contrapartida aos grandes investimentos realizados na recuperação da cultura cafeeira no país. Ele também destacou a necessidade de uma remuneração adequada para a mão de obra no setor, considerando a concorrência com a indústria e outros produtos agrícolas. Com a presença de importantes figuras, incluindo o presidente do IBC, Camilo Calazans de Magalhães, embaixadores estrangeiros e representantes de nações produtoras, o evento reuniu uma assistência de cerca de 700 pessoas.
Durante o seminário, Ângelo Calmon de Sá abordou os desafios enfrentados pela cafeicultura brasileira, especialmente em termos de competitividade e custos. Ele mencionou como a cultura cafeeira se tornara menos atrativa devido à necessidade de intensivo emprego de mão de obra e insumos, e como a geada de julho de 1975 reverteu expectativas ao afetar severamente as reservas e, consequentemente, os preços do café. O governo brasileiro, respondendo a esses desafios, investiu significativamente no setor, resultando no plantio e revitalização de milhões de pés de café.
O ministro também enfatizou o compromisso do Brasil em continuar abastecendo um terço das necessidades mundiais de café, além de atender ao crescente mercado interno, que se posicionava como o segundo maior consumidor global da commodity. Mesmo diante do aumento dos preços, Calmon de Sá argumentou que tais ajustes não seriam proibitivos para consumidores em economias mais fortes, embora reconhecesse o impacto significativo nos países da América Latina, incluindo o Brasil.
Finalizando o evento, o presidente da Associação Comercial de Santos reiterou a importância de um comércio cafeeiro ideal, inspirado nos princípios aristotélicos, enfatizando a busca por uma coexistência equilibrada e duradoura entre exportadores e importadores. O seminário também ficou marcado pela presença do presidente da República, Ernesto Geisel, que participou da cerimônia de encerramento
Ele defendeu firmemente os preços do café contra acusações internacionais de manipulação de mercado, argumentando que a elevação dos preços era uma consequência direta da redução dos estoques, projetando que até meados de 1978 o Brasil poderia não ter nenhuma saca de café estocada. Sua exposição, feita de forma improvisada após discursos do ministro Ângelo Calmon de Sá e de um histórico dos 250 anos do café no Brasil por Francisco de Paula Soares Neto, impressionou os mil empresários nacionais e internacionais presentes pelo profundo conhecimento do setor e pela habilidade retórica.