Imperador visita pela primeira vez a ACS e inaugura Livro de Ouro

Observado por Nicolau Vergueiro e outros membros da diretoria, o Imperador inaugura, com sua assinatura, o Livro de Ouro da entidade. Imagem gerada por IA.

No final de agosto de 1875, a cidade de Santos recebia o Imperador do Brasil, D. Pedro II, que, aos 49 anos de idade e no 44º ano de reinado, percorreu uma extensa agenda de compromissos oficiais. Entre todos os locais visitados, destacou-se a sede da Associação Comercial de Santos (ACS), instituição que já despontava como núcleo representativo da vida econômica e empresarial da cidade.

Instalada em prédio cedido pelo então presidente, visconde Nicolau Vergueiro, a Associação Comercial preparou-se para a recepção do monarca com a solenidade que a ocasião exigia. O espaço foi adornado para a cerimônia que inauguraria um dos mais preciosos símbolos documentais da entidade: o Livro de Ouro. Nele, D. Pedro II lançou sua assinatura, ato que marcou a abertura oficial da coletânea de registros destinada a eternizar a passagem de personalidades ilustres pela instituição. Ao lado da rubrica imperial, também ficaram gravados os nomes do conde de Iguaçu, Pedro Caldeira Brandt — integrante da comitiva —, além de juízes, vereadores e diretores da entidade santista.

A visita do soberano à ACS simbolizou o prestígio alcançado pelo comércio local, e também a aproximação entre a Coroa e a elite econômica do porto, em um momento em que Santos se consolidava como elo fundamental entre a produção do interior paulista e os mercados internacionais. O gesto do Imperador, ao conferir tamanha distinção à entidade, reforçou o papel da Associação Comercial como guardiã das tradições empresariais e como ponte de diálogo entre a sociedade civil e o Estado.

O Livro de Ouro, iniciado naquela tarde de 1875 pelas mãos de D. Pedro II, viria a se transformar em um dos maiores tesouros patrimoniais documentais da cidade de Santos, reunindo ao longo de décadas as assinaturas de autoridades, governantes e figuras de destaque da vida política, cultural e social do Brasil.

A visita de D. Pedro à cidade

A visita começou na manhã do dia 29, por volta das 10h30, momento em que o casal imperial partiu da Estação da Luz, em São Paulo, a bordo de uma composição especial da São Paulo Railway, preparada exclusivamente para recebê-los. Às 11h45, o trem chegou ao alto da serra, onde Suas Majestades foram saudadas pelos habitantes da pequena vila de Paranapiacaba. Na ocasião, D. Pedro II destinou 100$000 para a criação de uma escola de primeiras letras, reafirmando sua atenção às iniciativas de educação popular. Pouco depois, por volta das 13h30, a comitiva desembarcava na estação de Santos, que se encontrava ricamente ornamentada e tomada por uma multidão. As ruas, enfeitadas com arcos e bandeiras, completavam o cenário festivo. À noite, os edifícios foram iluminados em homenagem à visita. Logo depois que desembarcou, o casal imperial hospedou-se na residência do Barão do Embaré, Antônio Ferreira da Silva, então vice-presidente da Associação Comercial de Santos.

Imagem produzida por IA, representando a chegada do Imperador à Estação do Valongo.

Atividades oficiais em Santos

Depois de um breve descanso, o soberano cumpriu uma extensa agenda. Visitou a Câmara Municipal, a cadeia, a igreja e o hospital da Misericórdia, aos quais destinou 500$000 de esmola. Em seguida, esteve na Companhia de Aprendizes Marinheiros, no arsenal da Marinha e na matriz, onde examinou a sepultura de Braz Cubas. Na Beneficência Portuguesa, recebeu um copo d’água e assinou o livro de visitas preparado para a ocasião.

Na sequência, participou de uma sessão solene na Casa de Câmara (atual Cadeia Velha), onde foi lavrada uma ata assinada por ele e pela imperatriz. Na ocasião, recebeu de presente uma casaca de pano, oferecida pelo alfaiate espanhol A. Martinez Riaymont. À noite, os edifícios da cidade foram iluminados, com destaque para a praça do comércio, a estação ferroviária e os prédios dos clubes Bavard e Allemao. Entre 18h e 20h, Suas Majestades receberam cumprimentos de representantes locais e, às 20h, participaram de um solene Te Deum na matriz, que reuniu grande número de fiéis.

A programação prosseguiu no teatro, durante espetáculo dramático, ocasião em que foram recebidos com vivas pelo chefe de polícia. Ao deixar o local, foram novamente saudados por grupos de crianças que entoaram cânticos e o hino nacional. Entre os que tiveram a honra de cumprimentá-los estavam o superintendente da estrada inglesa e os principais funcionários da companhia.

Imagem produzida por IA, representando a visita do Imperador ao Sambaqui do Casqueirinho, ao lado do geólogo Frederico Carlos José Rath

Mais visitas

Na manhã de 30 de agosto, D. Pedro II visitou, em companhia do professor e geólogo Frederico Carlos José Rath, um sambaqui no sítio do Casqueirinho, em Cubatão. Em seguida, esteve na Alfândega e no Gasômetro do Valongo, acompanhado por Carlos Affonseca e J. W. Wright, diretores da Companhia de Melhoramentos de Santos.

Após o almoço, o casal imperial embarcou em um bonde cedido pelo empresário Jacob Emmerich e seguiu até São Vicente, onde visitou a matriz. No retorno, viajaram de carruagem pela orla, passando pela praia do Embaré, onde conheceram a capela de São João. No Boqueirão, voltaram a utilizar bondes para regressar a Santos.

O Imperador ainda retornou à Alfândega, visitou a matriz, algumas escolas públicas e prestou homenagem no túmulo de José Bonifácio de Andrada e Silva, seu tutor na infância. Presenciou também uma demonstração de válvulas de incêndio, realizada pela Companhia de Melhoramentos. Também esteve na sede da Associação Comercial de Santos, instalada em prédio cedido pelo então presidente, visconde Nicolau Vergueiro. Ali, inaugurou o Livro de Ouro da entidade, registrando sua assinatura, ao lado da do conde de Iguaçu, Pedro Caldeira Brandt (um de seus acompanhantes oficiais), além de juízes, vereadores e diretores da instituição comercial.

A partida

Às 15h, depois de receber o corpo consular, D. Pedro II embarcou com a Imperatriz no vapor América, que os levaria de volta ao Rio de Janeiro. A partida foi marcada por forte comoção popular: uma multidão tomou o Arsenal, acompanhada por duas bandas de música, em meio a aplausos e aclamações.

Antes de deixar Santos, o Imperador praticou novos atos de beneficência, destinando 1:000$000 para os pobres da cidade e 200$000 para os necessitados de São Vicente. Às 15h30, o América deixou o porto, em meio a um cortejo de autoridades civis, militares, representantes do corpo consular e famílias locais. Vivas entusiásticos foram correspondidos pelo casal imperial, que se mostrou emocionado diante das manifestações espontâneas de afeto. Às 16h05, o navio transpôs a barra, sendo saudado pelas tradicionais salvas de artilharia. Às 21h, já havia notícia de que Suas Majestades passavam por São Sebastião.

Assinatura do Imperado D. Pedro II no Livro de Ouro da ACS. Ato histórico representou o início do documento.

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