José Martiniano Rodrigues Alves: O homem por trás do Palacete Piauí e da ACS


A história do casarão de Higienópolis encontra paralelo na atuação decisiva de seu proprietário na Associação Comercial de Santos.

No segundo semestre de 2025, os noticiários passaram a destacar a recuperação de um dos raros casarões remanescentes da arquitetura residencial ligada à elite cafeeira do início do século XX na capital paulista. Localizado na esquina das ruas Piauí e Itacolomi, no bairro de Higienópolis, o Palacete Piauí foi construído entre 1916 e 1918, no auge do ciclo do café, e pertenceu a José Martiniano Rodrigues Alves, que ali viveu até sua morte, em 2 de setembro de 1940. Com cerca de 600 m², o imóvel tornou-se um símbolo de um momento em que Higienópolis se firmava como reduto das famílias mais influentes do Estado.

Após o falecimento de Martiniano, sua viúva vendeu o casarão ao IAPAS — atual INSS — por volta de 1945. Desde então, o imóvel abrigou diferentes instituições públicas, servindo por quase quatro décadas como unidade da Polícia Federal e, durante o regime militar, como sede da Divisão de Ordem Política e Social (DOPS). O Palacete por pouco não foi demolido no fim da década de 1990, quando foi adquirido pela construtora Encol, que acabou falindo antes de executar o empreendimento.

Tombado em 2012, voltou ao centro de debates urbanísticos em 2018, quando foi leiloado por R$ 26 milhões e posteriormente adquirido pela Helbor e MPD. Moradores do bairro expressaram preocupação com os novos projetos imobiliários planejados para o entorno, temendo que as torres previstas “sufocassem” o casarão, hoje uma das últimas referências físicas do período áureo do café em São Paulo.

Mas há um elemento curioso que liga diretamente a história desse antigo casarão de Higienópolis à Associação Comercial de Santos: o perfil de seu proprietário.

José Martiniano Rodrigues Alves na Associação Comercial de Santos

A atuação de José Martiniano Rodrigues Alves na Associação Comercial de Santos (ACS) foi decisiva para o fortalecimento institucional da entidade no início do século XX. Comerciante de café e sócio da empresa Salles, Toledo & Cia, ele integrou ativamente a vida associativa desde 1910, representando a Companhia Central de Armazéns Gerais ao lado de Belmiro Ribeiro. Sua gestão como presidente da ACS entre 1923 e 1924 ficou marcada pela inauguração da nova sede da Associação Comercial, marco estrutural que só se viabilizou graças à intensa articulação que Martiniano conduziu junto ao comércio cafeeiro da cidade, sendo um dos principais arrecadadores de recursos da obra.

Um episódio notável de sua administração ocorreu em 1924, quando a diretoria expediu uma circular orientando os associados a evitarem negócios com firmas não registradas na Junta Comercial, alertando para a falta de garantias em operações desse tipo. A medida reforçava o compromisso da ACS com práticas comerciais seguras e transparentes, refletindo a postura firme e organizada de Martiniano na condução da entidade.

Biografia de José Martiniano Rodrigues Alves

José Martiniano Rodrigues Alves nasceu em Guaratinguetá, em 12 de outubro de 1872, descendente de tradicional família paulista ligada à política e ao setor cafeeiro. Era filho do coronel Virgílio Rodrigues Alves, vice-governador de São Paulo (1920–1922), e sobrinho do presidente da República Francisco Rodrigues Alves (1902–1906). Iniciou seus estudos em São Paulo e completou formação na Inglaterra, onde viveu por vários anos e se graduou em engenharia.

De volta ao Brasil, após uma segunda estadia no exterior, estabeleceu-se em Santos como comissário de café, conquistando prestígio e reconhecimento no meio comercial. Tornou-se diretor da Associação Comercial de Santos, ocupando diversos cargos ao longo da carreira com ampla aprovação dos associados.

Casou-se com Maria de Lourdes de Oliveira Borges Rodrigues Alves, com quem teve três filhos: José Martiniano Rodrigues Alves Filho, oficial do gabinete do secretário da Agricultura; Virgilio Rodrigues Alves Neto; e Maria de Lourdes Rodrigues Alves Souza de Meirelles, casada com Milton de Souza Meirelles.

Era ligado a famílias tradicionais e mantinha relações estreitas com diversos ramos dos Rodrigues Alves, dos Sampaio, dos César e dos Carneiro.

Faleceu em 2 de setembro de 1940, em São Paulo, sendo velado em sua residência na Rua Piauí, 527, o próprio Palacete Piauí, e sepultado em Guaratinguetá, terra com a qual sua família mantinha laços históricos.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *